quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mário de Andrade

Pessoal:

Estava hoje relendo despretensiosamente Mário de Andrade, mais precisamente o seu livro sobre Estética, de 1925, e eis que fui surpreendido com uma (ou duas) frases que me deixaram boquiaberto, por terem encontrado em mim uma enorme reverberação. A primeira é uma síntese de algumas das ideias que também me são caras...

A primeira frase que me comoveu muito foi uma bem curtinha. Diz ele que:

"A obra de arte é uma realização de amor". (Mário de Andrade)

E não pode(ria) ser diferente. Só o amor em sua expansão imensurável constrói algo belo... O amor que se tem por você mesmo, pela vida, pela oportunidade de podemos nos expressar livremente...

E continua, em uma frase mais longa, criticando a quem não tem o amor como seu principal guia artístico:

"A Arte à medida que se vai tornando uma superfetação dentro da vida, perdendo aquele caráter de interesse prático de socialização, de religião etc. à medida que se vai tornando objeto de luxo abre cada vez mais convites pras vaidades humanas. As vocações erradas se multiplicam. E as vidas estraçalhadas e azedas se multiplicam também. Um doer de todo instante, uma preocupação forçada, um esforço sem remuneração, e finalmente um vazio imenso quando a vida é tão cheia de compensações de dores e alegrias. A esse homem que errou a vocação principalmente levado pela vaidade de ser aplaudido, de ser célebre, de ficar! como se a preocupação do criador fosse ficar e não viver, a esse homem que soube por um esforço lacrimável todas as regrinhas de arte e que através de tempos cheios de minutos lentos construiu por todas as regras a obra-de-arte sem fecundidade, a esse homem cujos entusiasmos se determinam pela tradição unicamente, pelo preconceito do passado, que respeita porém não sabe amar, que só assunta o passado sem porém saber possuí-lo e que só sabe contar na tábua negra os erros contra as regras dos criadores seus contemporâneos, esse homem é o infeliz por excelência e vai passar pela vida sem viver. Todo aquele que se imagina criador em Arte carece que se horrorize da sua vocação que a contrarie que a sufoque, se ela for verdadeira acabará vencendo sempre." (Mário de Andrade)

Soa para mim claramente como uma defesa do verdadeiro artista (se é que verdadeiro é o termo correto...), que deve superar seu preconceitos e suas vocações sempre para que não se repita e vire um fazedor de obras-de-arte "infecundas"...

É isso ai... De uma leitura despretensiosa, Mário me deu uma lição que espero guarde comigo sempre que for iniciar uma nova composição...

Um grande abraço,

Tadeu

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